CHICO DE ASSIS

Poetas mineiros
a gente encontra
nos bares.
Não vão olhar a vida
mas levar ali uns versos.


Poeta mineiro
não tira verso da vida,
ao contrário; plantam
na realidade cotidiana
seus delírios.

Chegam, cercados de
bois e burros invisíveis
e mais: pepitas de ouro
sujas de terra negra;
fantasmas familiares
de avós de colete e
relógio de corrente.

Poetas mineiros
a gente topa
entre um gole e outro
de bebida forte
no limite da noite
e a madrugada.

Eles vêm com os bolsos
empanturrados de palavras
ainda por inventar.

Calmos e precisos
largam nas mesas
pedaços de frases
melancólicas, como iscas
de pescar lágrimas.

Poeta mineiro
não vende seus versos
pelo dinheiro do mundo.
Trocam.
Breganham verso por susto
estrofe por causo
poema por vida
imediata.

Poetas mineiros

só escrevem
versos que não usam mais
Os úteis, reservam
como munição
para batalhas íntimas
de tertúlias
para o gozo da
farândola
para a rosa de espuma
que deixa a cerveja
na boca da noite.
Poeta mineiro
não altissona
a beleza do verso
mas, silencia
o grito
e esculpe o verbo
na cacunda de um boi de pedra.
(1984)

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© 2021 Marcos Resende
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